terça-feira, janeiro 01, 2008

ET IN TERRA PAX





Eu não quero iniciar qualquer discussão, porque sei que, na falta de (um) consenso, isso abrirá uma porta para disputas; e nunca se sabe muito bem aonde isso pode parar – se parar. Mas não posso deixar de dizer que se a paz do mundo depender da boa-vontade dos homens, então: estamos feitos! E ao dizer isso, não o faço com ironia – não, ao menos, com aquela que se supõe, a princípio.

Estamos feitos, na medida em que isso vem ao encontro (vir “de encontro” é um passo seguro para uma possível guerra) a nossas aspirações, mesmo que não declaradas, mesmo até que as neguemos, pois nada agrada tanto à natureza humana que disputas. É verdade que isso, por si só, não leva, necessariamente, a uma guerra; porém, a experiência já nos deixa, disputa à vista, com o pé atrás, porque também não vale de muita coisa toda essa repetição de que quando um não quer... E nós sabemos que quando um quer, isso já é suficiente para se dar início a uma boa briga, às vezes, justamente, porque, querendo um, o outro não quer.

Tanto nos agrada guerrear, que sequer exigimos o cumprimento rigoroso dos protocolos convencionados, com a guerra sendo declarada formalmente, com toda a oficialidade, secundada por documentos em papel timbrado, para não deixar dúvidas, embora se conheçam guerras feitas à base de falsificações, com o selo real, se majestade houver, ou com as insígnias da república, se houver essa fantasia de bem-público, pertencente a todos, igualmente. Diante de nossos desejos, não vendo a hora de disputar, de brigar, já nos basta um bilhete, escrito apressadamente, com erros que envergonhariam mesmo aquela Soles grega, que acabou, a sua revelia, ainda que tenha muito cooperado para isso, por emprestar seu nome aos erros em geral: puros solecismos. E se a pressa for muita, nem bilhete: um grito, e a guerra está declarada.

Há guerras da porta para fora, de caráter público, e que encerram segredos que, por vezes, demoram muito para vir ao conhecimento de todos, já não havendo, a essa altura, muitos dos que morreram nelas, e morreram sem conhecer esses segredos. E há as guerrinhas (o diminutivo não lhes diminui em nada seu potencial bélico) bem mais domésticas, as que são, tipicamente, da porta para dentro, mas que, mais comumente, ultrapassam, aos brados, a soleira, revelando segredos até então privados, alguns dos quais tão privados, que foram “colhidos” no mais escatológico dos ambientes caseiros.

Homens de boa-vontade, garantam-nos essa paz que descansa os espíritos, após uma guerra – dentro ou extramuros! Homens, mesmo que sem tanta vontade, quanto mais da-boa, ajam, com a vontade que lhes restar, para que não sucumbamos (mas, que tipo de homem eu sou, para pedir isso?!) a essa paz de cartão-postal, de pores-do-sol devidamente retocados, de ocasos forjados, e não ao acaso, mas de caso pensado, ainda de dia, lançando mão do efeito (de) noite-americana, com uma escuridão azulada que cai, de repente, com sol ainda a pino!