quinta-feira, janeiro 01, 2009

TÔ TÃO CANSADO!...


ecurso fácil, quando não se deseja despender muito esforço (o que, muitas vezes, é difícil, seja porque se rejeita, preconceituosamente, o recurso fácil, acreditando-se que daí não poderá vir, sem o esforço muito, nada que preste, seja porque o esforço tanto é a legitimação de um tempo de sobra que não se quer mostrar assim - um recurso, admitamos, complexo), é associar uma página (ainda) em branco ao começo de tudo: o começo do mundo, o começo da vida, o começo, propriamente, de toda história, partindo-se sempre do princípio de que tudo começa assim, do nada, como se fosse mesmo possível se construir alguma coisa a partir desse material tão instável.

Com o começo do ano, de cada um deles, não importando o quão velha já vai essa história, quantas folhas, um dia, novas, em branco, um nada, aparentemente, tão promissor, hoje, não passam (só os mais nostálgicos ainda passam essas páginas) de um amontoado de folhas passadas, algumas, curiosamente, em branco, o que não significa que estejam novas, apesar do passar do tempo, sendo mesmo, ao contrário, uma espécie de coisa velha ao quadrado, por retangular que seja a folha, na medida em que, tendo-se a ela recorrido, com sua brancura otimista, na esperança de que, ao longo do ano, se a fosse preenchendo, contando, desse modo, umas história, percebe-se, nesse retrospecto, que tudo não passou de um recurso fácil, na tentativa de se autoconvencer de que é assim mesmo que o mundo gira, que os homens crescem, que as histórias prosperam, que o nada se plenifica, reiterando o preconceito contra o menor esforço, o que leva - recurso fácil! - a que se queira, a partir de agora, a começar deste ano, recorrer sempre ao maior esforço, negando-se, por mais que a força do hábito empurre em sentido contrário, a se deixar encantar pelos recursos fáceis, certos, então, de que, mais à frente, quando se olhar para a folha de agora (mas isso não é um recurso fácil, um dos que se jurou não se usar?!), há-de se a ver escrita uma história contada, ou, ao menos, o começo dela. Há-de se ver...se isso vai mesmo acontecer.

O recurso, aqui, pode ser fácil ou não, a depender do quão se recorra a ele, freqüentemente: em tudo o que se escreve, mesmo nas folhas em branco (porque nelas há, inaparentes, muitas linhas), há-de si ver, de ver a si mesmo, seja no tanto que se escreveu, nas histórias que se viveu, seja no pouco que se conseguiu contar, sem que isso se queira dizer que se despendeu quase nada de esforço, fazendo com que os mais apressados, dados aos recursos mais fáceis, concluam que esse é o resultado de se deixar seduzir pelas facilidades, como se ao dizerem isso não estivessem usando de recurso semelhante.

Abandonar as folhas, a idéia de que é preciso a primeira palavra para que a história, lá adiante, se mostre uma sucessão de sucessos, com uma ou outra pedra no meio do caminho, tudo pensado para, com tal empecilho, acentuar os sucessos, que podem não passar de uma inexorabilidade do tempo, já que, afinal, nessa seqüência, tudo é sucesso, tudo é uma sucessão, com o instante a vir tomando já o lugar deste de agora - que, a essa altura, já se foi -, parece-me um recurso demasiado fácil, apesar do esforço que, aqui, despendi. Sendo assim, pelo sim, pelo não, eis a folha, a primeira de uma seqüência a vir, a derradeira da seqüência que se encerra, cheias de sucessos.

Quanto à pedra, fica, como uma carta (uma folha dobrada), na manga, para a necessidade de se ter de aumentar, transformando num sucesso estrondoso, o que era só o passar do tempo.