segunda-feira, junho 01, 2009

GRANDE OTELO E OS PEQUENOS IAGOS







eu nome não é feio: frailty é seu nome. E, como se sabe, sabe todo aquele que conhece (bem) o sempre insondável príncipe Hamlet, “thy name is woman”.

Não digamos, logo, de cara, que isso não é mesmo coisa para se dizer assim, na cara, o que isso significa, mesmo que, com domínio longe da minha debilidade, já se saiba que o que se quis dizer é que essa fragilidade, atávica, tem nome: mulher; que, invertendo a ordem original, seu nome é – coisa feia! – essa fraqueza, predicado indissociável, pelo jeito com que te olham, mulher, os homens: como Shakespeare, Hamlet – e sabemos o quanto eles não estão sozinhos.

Ah! – provavelmente dirá um homem; porque a mulher, se deu importância a algo que se disse aqui, não será condescendente – isso é coisa de antes, de um antigamente que, de tão lá atrás, mesmo que ponhamos a mão, como para proteger nossos olhos de um sol que não há, já não se alcança mais. Hoje, dirão os homens, assumindo um papel de condescendente, sem jamais admitirem que, numa troca, estão ficando, cada vez mais, mulher(es), que não se poderia dizer isso, já que as mulheres – essa (nossa) neocondescendência masculina! – são a própria força: e, a partir daí, enumera-se, numa lista que parece não querer mais acabar, tudo aquilo que parece provar quão fortes são as mulheres, começando, o que prova a falta de originalidade dos machos, com o parto, com suas dores monumentais, tudo em nome da perpetuação dessa nossa humanidade, ainda que as mulheres, por vontade, não sentiriam esse doer, pondo um fim, o que já não é sem tempo, à maldição divina, porque, em que pese alguns encontrarem aí uma contradição ontológica (como Deus pode maldizer?), talvez porque “feito” à imagem e semelhança dos homens, sabemos de onde partiu essa história de (o homem) ganhar o pão de cada dia com seu próprio suor, enquanto a mulher...

Tenho de concordar: é de antigamente! E isso se percebe, de imediato, pelo “thy” elisabetano – da primeira Bete, não da de agora, se é que se pode chamá-la assim, tão século passado como é, ainda que não chegue a recuar tanto, chegando ao dezesseis, dezessete. Thy é seu: e, de resto, nada mudou – mulher, woman, se quiser, frailty é seu some.

Quanto as incontáveis fortalezas construídas pelos homens – se houver, em construções assim, alguma mulher metida nessa história, ou é um “caso” perdido, ou é tão exceção que merece um capítulo à parte, o que, a meu ver, não lhe acrescenta força, mostra apenas uma debilidade construída, e tão bem, que as próprias mulheres, vendo essa obra já de pé, compram-na –, isso, apesar da evidente constatação da força que foi necessária para se “arquiteturar” uma humanidade assim, não exclui dos homens suas próprias fraquezas. Estas, porém, vivem, comumente, tão escondidas, que é de se pensar que, desabada a obra sólida que se crê que todo homem é, ele ainda se mantém de pé, mal se sustentando, valendo-se só da crença e fantasia alheias (especialmente, das mulheres) de que são fortes todos os homens, sua fragilidade ficou soterrada.

Só que o que está por baixo não teve, necessariamente, decretada sua morte oficial: de pé, ainda o homem; debaixo do que dele ruiu, sua fragilidade (ainda) não morreu; ao contrário mesmo: é justamente por está aí, sob os escombros de uma perfeita obra, como se crê que seja o homem, que essa sua debilidade insuspeita vive, e prospera, a ponto de alguns homens – corajosos, admitamos – fazerem justamente dessa (sua) fraqueza a maior obra de sua vida, chegando mesmo a, com os lucros, construírem uma verdadeira fortaleza, se é que a podemos, sabendo como ela nasceu, chamá-la de verdadeira.

Eu, aqui, como Iago – com suas fraquezas bem-disfarçadas –, digo? From this time forth, I never will speak a Word. E para quem, sabedor de outras línguas, em sua modernidade, alerta-me para o never que nunca, em construção do “falar”, deve se antepor ao (seu) auxiliar, respondo, não tão antigo como ela, com uma “realidade” sob suspeita, ao contrário dela, estou sendo apenas elizabetano – de primeira.