domingo, agosto 01, 2010

REDISTRIBUIÇÃO DE RENDA










e a ladroagem corre solta, e tantos, com a razão andando em sentido contrário (à própria razão) correm, ou dizem fazer isso, atrás do prejuízo, sabe-se lá para quê, que lucro se pode tirar daí, caso, nessa corrida, chegue-se a alcançá-lo, prejuízo que nem tem (razão) por que fugir, nós, aqui, parados, fazemos o quê?

Correr atrás dos ladrões, tomando-os, com algum acerto, pelo menos, de um ponto de vista pessoal, apesar de tão transferível, pelo prejuízo (que nos dão), mesmo que, apelando para São Silvestre, o santo padroeiro não dos ladrões, mas de todos aqueles que correm, incluindo os ladrões, quando correm, consigamos lhes pôr as mãos, pode significar uma perda de tempo, o que, em outras palavras – e usar outras para dizer o mesmo é perder ainda mais –, só aumenta o prejuízo, embora, no que diz respeito às palavras, sejamos tão pródigos.


Até porque a ladroagem, que só corre (solta) na (nossa) força de expressão, numa retórica gasta, ou não se dá ao luxo de dar no pé, confiante em que não será perseguida, ou se houver alguém em seu calcanhar, pela falta de prática em corridas, uma hora, há de cansar, ou está tão ao nosso lado, que nem desconfiamos de que, à mão, seja, desse modo, possível alcançar o ladrão com tamanha facilidade, engendrando, com razão, o que não elimina a possibilidade de a covardia se sobrepor ao ímpeto inicial (Hamlet parece, para todo o sempre, ter razão: “a consciência (o pensar demais no que fazer) faz de nós uns covardes), toda uma teoria que sustenta a decisão de não se fazer nada: ou quem está ao nosso lado não é ladrão, não é “o” ladrão atrás do qual deveríamos ir, ou é ele mesmo, mas se está assim, tão ao nosso lado, sem nenhuma solidariedade genuína para com nossos prejuízos diários, agir, em tal caso, pode nos fazer perder ainda mais. Então...

Corra, que a polícia vem aí. E nunca se sabe se ela vem atrás da ladroagem e, cansada de tanto correr, sem lucro, ou já acumulando prejuízos demais, preferindo usar o tempo para atividades mais lucrativas, vendo-nos pela frente, para dar o serviço por findo, pegar-nos-á, como se, enfim, tivesse posto as mãos num ladrão. E vai – corra, que a polícia vem! – que, justamente nesse instante, estamos com as mãos cheias de parcos lucros, fruto de uma vida cansada, ou mesmo com elas cheias de frutos, que isso já chega a ser um lucro, quando o prejuízo dá, com assustadora generosidade, em árvore, com galhos baixos de tão carregados, quase com os prejuízos-frutos se oferecendo, de mão-beijada. Ou então...

É chamar o ladrão, contado com sua razão, e fazermos um acordo, uma distribuição dos lucros, ainda que ele fique com a parte do leão: ao menos – a que ponto chegamos! –, não ficaremos sem nada, de mãos vazias. Nisso, porém, há um risco iminente, que nem é o de ficarmos sem nada, já que, ficando ou correndo, o bicho é insaciável, e que é o que, dispondo-nos a tão submissão, virmos a alimentar a vingança. Como se sabe, este é um prato que só se come quando, depois de sopros e mais sopros, ele se revela frio, e, passado tanto tempo, com a vingança já no ponto ideal para ser degustada, até o prato tenha-nos sido levado, para regalo do ladrão que, não tendo estômago tão sutil (embora haja os mais refinados, que dizem até que só roubam para deleite de seu apetite – sabe-se lá qual), comem qualquer coisa: e se deleitam.