sábado, outubro 01, 2011

EM QUE MUNDO NÓS ESTAMOS?!










rofetas parecem ser coisa nossa – e não estou afirmando que Sílvio Santos também o seja –, enquanto que do outro lado do mundo, lado que também conhece seus domingos, com as rotinas de sempre, os sábios, quando não são conhecidos, simplesmente (e a simplicidade, para eles, é já uma sabedoria), por sábios, são chamados de filósofos, sem se importarem, provavelmente, com uma maiúscula que os eleve, no nome, aos píncaros do saber: eu, só por conhecer tal palavra – píncaro – já me dou por satisfeito, exibindo meu conhecimento do mundo, enchendo a boca para mostrar o tanto que (já) sei.

É de lá, de desse lado que não é o de cá, que vêm palavras que, seja por virem de onde vêm, seja porque encerram, verdadeiramente, uma sabedoria, afirmam que O UNIVERSO NÃO TEM PREFERÊNCIAS: de cara, um alívio, pois se ele não tem gostos próprios, todos nós estamos, então, no mesmo barco, ainda que, por vezes, expansivo como é o universo, essa embarcação em que fomos colocados, a nossa revelia, pareça ora fazer água, estando à deriva, ora, sem que saibamos que horas são, que o barco segue – mas, para onde, afinal?

Como as primeiras impressões, contra as expectativas de alguns que se querem filósofos, só por serem as primeiras, não têm sempre razão, aquilo que se percebeu, de cara, pode se transformar, ao se virar de costas, olhando-se o verso dessa prosa. Não tendo preferências, o universo não conspira, necessariamente, a nosso favor, já que isso seria contradizer suas não-preferências.

Se uma fortuna se acumula, num prêmio que requer apostas para que se se aposse dele (e tal acúmulo, caso o universo tivesse preferências, eu diria, seria o cúmulo do seu sadismo), os desvalidos, tirando do bolso furado um troco que lhes fará falta, apostam, julgando que por serem assim, terão o universo a seu favor; e se veem, na fila dessa possibilidade, alguém que aposta alto, sem que isso lhe faça grande falta, com a perspectiva de ter ainda mais (o que lhe permitirá apostar cada vez mais), os desvalidos, intimamente, como se conspirassem de si para si, acreditam que, já tendo o que têm aqueles outros, eles próprios têm, nessa fila, prioridade – mas, como se sabe, O UNIVERSO NÃO TEM PREFERÊNCIAS.

Se se ama (e não a si), e esse amor continuado não encontra a devida correspondência, numa associação entre amor e dor que vai além da pobre rima, encontrando-se quem, julga esse amante contumaz, conforma-se com sua maneira de amar, concentrando em si, esse objeto, a imagem que faz do amor(-)perfeito – que, sabem disso mesmo os botânicos amadores, não é nenhuma flor –, observando, em volta, quem dá tão pouco valor ao amor, acredita, sim, que é para si que aquele (objeto do amor) existe, e para mais ninguém, até apelando para certas(?) forças cósmicas a seu favor – mas, como se sabe, O UNIVERSO NÃO TEM PREFERÊNCIAS.

Se se passa, nesta vida – tanto do lado de cá, quanto do outro lado do mundo – por poucas e boas, querendo-se, com isso, dizer que se passou por muitas nada-boas, ou por algumas boas, no entanto, bem poucas, quase a não deixarem lembranças, e, de repente (algo que não faz qualquer sentido para o universo), acha-se numa boa, acredita-se que, dessa vez, a coisa não será pouca, mas, já sendo boa, será muita, será muito boa, por bastante tempo, não se podendo compreender que essa extensão das coisas boa e duradoura só ocorra para os outros que, indo de cá para lá, conhecendo não apenas este lado do mundo, mas também já o lado de lá, nunca passaram por poucas e boas, ou, se passaram, passaram pouco, quase a não lhes deixar lembrança – mas, como se sabe, O UNIVERSO NÃO TEM PREFERÊNCIAS.

Se eu fosse – profeta ou filósofo que não sou – o dono do mundo, o senhor do universo, também eu não teria preferências: para quê, se sou o que sou? Como não, não que não seja o que sou, mas, como não sou, não sendo o que não sou, dono de nada, senhor de coisa nenhuma tenho, sim, minhas preferências: isso, no entanto, não vale de nada; não interfere na ordem das coisas, no andar da carruagem, no girar do mundo, no passar do tempo, nem nas não-escolhas do universo – que, como se sabe, NÃO TEM PREFERÊNCIAS.