terça-feira, março 01, 2011

BACKUP









s mais “artísticos”, mesmo que não saibam dizer muito bem qual a “sua arte” nesta vida, torcem o nariz, como se, trancados num conservadorismo aristocrático, esconjurassem qualquer vanguarda (às vezes, só a releitura de uma “antiga velharia”), para a inteligência artificial, não aceitando nenhuma forma de pensamento (e creio poder, para não abusar das aspas, chamar assim) artificial – mas, para os mais conservadores, inclusive quanto ao uso das palavras: da inteligência artificial.

Isso é coisa de computador. E para mostrarem o perigo que é sair das (nossas) humanas configurações, um sistema caracteristicamente falho, sendo o uso da (nossa) humanidade, como desculpa para as falhas, uma das nossas mais marcantes características, lembram-nos de uma certa Odisseia no Espaço, sem perceberem, trancados em sua inteligência natural, o quanto, com isso, ao tempo em que ratificam a excelência do homem, quando este consegue isso, para a arte, legitimam a máquina.

Sem, no entanto, poderem escapar ao uso das máquinas, em geral, do computador, em particular (e para quanto não serve um, em "particular"!?), lançam mão, exibindo um tablet de última geração, espécie de vanguarda que, ao fim do dia em que nasceu, já dá sinais de senilidade irreversível, e argumentam que, ao menos, usam-no em nome da arte, sem, contudo, que ainda se saiba qual é (qualé?!) mesmo essa sua arte: meros artifícios!

Por mais que falem de uma certa pedra – e o nome é esse mesmo –, herança dos antepassados, sobre a qual, com “lápis” apropriado, escrevem, nesse tipo de caderno pré-papiro, embora já de um tempo em que o papel era comum, sendo uma tecnologia bem avançadinha, não deixam de criar pontos de restauração, para o caso de algo acontecer ao sistema e ser necessário voltar-se atrás.

E onde, se não em nós próprios, nessa máquina que somos, e não falo isso apenas em relação ao “hardware”, ao corpo, dissociando-o daquilo que, com nomes diversos, ora laicos, ora nem tanto, ora ainda muito nem-tanto, crê-se como sendo a alma do negócio que somos, encontramos, com updates agendados, esse voltar atrás, esse ir lá, recuando, açoitados pelo desejo de poder, recuperado o ponto anterior, (re)começar dali, esquecendo-nos de tudo o que aconteceu a partir daquele ponto, prometendo-nos, apesar da facilidade que um novo programa nos oferece, abrir qualquer aplicativo, concluindo que é melhor permanecer no certo(?), o que não elimina a possibilidade de vírus, já que, então, confunde-se o certo com o duvidoso que é uma situação, mesmo que perigosa, tão-só porque a ela já nos adaptamos, do que, como se máquinas e homens não fossem alimentados de riscos “incalculáveis”, bancando os avançados, os vanguardistas, querermos dá um passo (muito) adiante, fiando-nos nas promessas, em língua estrangeira ou mesmo em vernáculo, que nos cobram, ao fim, um ritual “aceito”, “concordo”: OK!

Deixando, ora, a máquina de lado (porque vimos, ao lado, uma outra, que faz a nossa parecer uma pedra-de-escrever), envergonhamos-nos de criar pontos-de-restauração, e mais ainda de tentarmos, mesmo sabendo que aquela memória é pura arte da linguagem, voltar atrás, com toda uma leva de conservadores que não acreditam em backup, de outros tantos vanguardistas que não admitem que, com tanta arte à frente, queira-se voltar atrás, recuperando-se um ponto que, por já passado, morto está.

E todos sabemos o que pode acontecer. Sei lá com que tipo de inteligência agindo – se a mais natural, com seus vícios típicos, ou se a artificial, com seus riscos característicos (não é mesmo, HAL?) –, mas, diante de uma falha, os com cabeça mais no lugar ou desligam a máquina e, artificialmente, dizem que não vão por ela se deixar dominar, recorrendo, sem se darem conta disso, a outra diversão, a outra máquina, ou, os que são cabeça-quente, têm de lutar contra a vontade de atirar a máquina pela janela, ou contra a parede, mas, pensando bem, o que mostra que esse cabeça-quente tem a sua cabeça no lugar, lembrando-se (recuperando, em sua memória, um certo ponto) o quanto isso lhe custou, o quanto há de lhe custar, desliga a máquina, e tenta, com graus variáveis de sucesso, também se desligar.