quarta-feira, junho 01, 2011

VÔ NÃO VOU










Intumesço, de repente, como um bonachão vovô mafioso, com suas bochechas com algodão, doce como ele só, mas capaz – e nisso, considerando-se que é tudo mesmo doce, talvez, não haja real contradição – de mandar bala, seja ele próprio a puxar o gatilho, pois, afinal, apesar de tão poderoso, se preciso for, não manda, e sim obedece, a si próprio (foi assim que se tornou poderoso), não sendo nenhum maria-mole, além do que, puxar um gatilho assim, disparando um ato, a seu ver, necessário, não exige lá tanta força, nem mesmo de um velho avô, como aquela que nos é cobrada, quando queremos, em qualquer idade, num estica-e-puxa, fazer uma bala...de coco, às vezes, exigindo, pelo esforço que requer, o empenho de toda a “famiglia”; no entanto, se não for, rigorosamente, indispensável que seja ele mesmo a protagonizar esse mandar-bala, em pessoa, delega, sem, preferencialmente, delegados por perto (a não ser os que já estejam bem pagos, ou os que, de tão maria-mole, nem precisam receber qualquer pagamento), essa responsabilidade a outros, ficando, assim, o sujeito com a arma do crime: e quão incriminadora pode ser uma mão com vestígios de bala...de coco.

Se inchei assim, não foi, esclareço, por excesso de doce (ando tão amargo!), nem de algodão-doce (ando tão pesado!), nem de balas de coco (não ando com força para isso!), nem foi por excesso de marias – moles ou (de) uma dureza só: é que fiquei cheio...de mim mesmo.

E se isso, por um lado, abre espaço – talvez a brecha que muitos estejam esperando – para que se pense que, antes, antes de me encher (de mim mesmo), eu era um grande vazio (ao menos, era grande), por outro, é-se, seguindo-se ainda a mesma lógica de doçaria de esquina, obrigado a se concluir que esse eu, o que me enche tanto (será que já estou tão cheio de mim assim?), a ponto de me deixar com ares de poderoso, posando de chefão, quando não passo de um subordinado (a mim mesmo até), é porque aquele tão vazio era enorme, quase maior do que eu.

Cheio a não poder mais (quero mais poder!), saio por aí assoviando um velho tema de cinema, esquecido dos meus crimes, alguns, cometidos com uma doçura exemplar, outros, dado o amargor, deixando a impressão de que foi doce em excesso, provocando, assim, um travo na língua.

Quem me vê passar, passando por mim, não reconhece a canção, não me reconhece, e, apesar de subordinado a tantos chefes, mandando bala quando um deles assim o manda fazer, sem ligar para os vestígios que ficarão em suas mãos, ao se sentirem tomados por um grande vazio (sem que isso os faça experimentarem a sensação de estarem cheios de si), olham para o alto, não em busca de uma salvadora promoção, que os faça também poderosos, mas, obedientes a uma hierarquia hierática, à espera das (boas) novas do Chefão.

Já eu, esgotada a partitura original, cabisbaixo por não conhecer outra trilha...musical, sigo, olhando o chão, tomado por um vazio que me enche, sem que, agora, sinta-se inchado. Porém, orgulhoso, para que não percebam, mesmo os que, costumeiramente, já não me notam, meus vãos, esse meu empacotamento a vácuo, insuflado por velhas imagens, distendo, ao seu limite, minhas bochechas: só que em vez de parecer poderoso, viro alvo de gozação.