terça-feira, novembro 01, 2011

AÍ O PAPAGAIO DISSE...












e rir é mesmo o melhor remédio, para que uma cura definitiva, se se pode passar a vida inteira rindo, cronicamente, e não em surtos irregulares, ainda que agudos, de gargalha?

E isso que digo aqui não é, mesmo que pareça, contradizendo o que ora digo, nenhuma piada, nem, mal disfarçada, propaganda dos Doutores do Riso: isto é só meu jeito sério de lançar mão de palavras fáceis, embora, daqui por diante, tudo vá-se complicar – e se tal complicação se refere ao corpo em questão, que bom!, porque assim será preciso muito mais remédio, doses generosas (ainda que se saiba o quanto a indústria – de remédios, de riso – lucra(m), e não lucra(m) tanto por ser(em) generosa(s)) de riso.

Pena que eu próprio já não tenha remédio, sem sequer uma “droga de graça”, espécie de amostra-grátis de uma velha anedota, agora, com nova embalagem, mesmo que eu tenha-me esforçado para sintetizar o riso em laboratório, no meu fundo de quintal. Porém, os efeitos colaterais dessas experiências risonhas, mas com a seriedade que exigem, foram uma tristeza só: o que é tristeza em dobro, pois, além de já serem essa tristeza, é ainda uma tristeza...só. Os resultados deixaram claro meu fracasso já no fato desse remédio ter causado lágrimas, quando se esperavam risos sequenciados (então, eu não desconfiava de que tanto se pode rir com os olhos, a quase os cerrar, quanto é possível chorar, por dentro, mantendo um sorriso nos lábios).

Dito desse jeito, soa a mentira – e talvez seja só um autoengano, como um desses placebos, miragem miraculosa num oásis feito de farinha, mas que, encontrando acolhida na vontade de se curar, passa a agir como se concentrasse em si dose elevada do princípio ativo.

É ou não é para se morrer de rir usar uma expressão assim: se rir já é o remédio, a esperança de dias melhores, só se pode dele morrer ou por se ter tomado um falso remédio (embora tenha-se rido com “verdadeira sinceridade”) ou por tê-lo feito (não o remédio, mas a sua ingestão) em doses erradas – de menos, a ponto de ter alertado os lábios para um novo riso a vir... E ele não veio, deixando os lábios na espera, na ilusão de uma sonora gargalhada a aliviar os males, ou doses exageradas, levando a um riso descontrolado, já que o valor desse remédio (alguns, mais ingênuos, ainda dizem que rir é de graça: mas a coisa não é bem assim) está não apenas em rir, simplesmente, e sim em também senti-lo em todas as suas sutilezas, não fazendo, como as crianças gostam (quando não gostam do remédio) de fazer, prendendo a respiração para não saborearem(!) os amargos da vida – adultos, quando têm testemunhas por perto e não podem dar-se ares de criança, preferem tomar o remédio, respirando fundo, de um gole só.

Aqui, é necessário acabar com certos mitos, mesmo que isso signifique desautorizar nossos avós, e até os avós deles, nossos não-sei-o-quê, alguns mitos que envolvem todas as terapêuticas: isso de que quem ri por último...só pode levar mesmo ao fim. O ideal é rir logo, de cara, não postergando a graça, não tendo medo de, sendo pioneiro, ser, posteriormente, imitado, até por imitadores sem muita graça, ou ainda de, rindo antes de todos os outros, parecer que tem o riso solto (um tipo de remédio liberado) ou que não entendeu, convenientemente, a piada.

Deixemos os sisudos de lados, guardando sua atitude calculadamente conspícua, fazendo-se de imunes a piadas vulgares, prendendo, no entanto, a gargalhada (como se faz com um remédio que, de imediato, deixa manchas na pele, mas que, ao se sentir seu efeito, fá-la, irremediavelmente, sadia)! Deixemos que torçam seu nariz (há remédios que não cheiram lá muito bem, como há perfumes que causam mal-estar)!

Ao sentirmos que é preciso nos medicar, gargalhemos, com vontade. Se quisermos nos prevenir, mantenhamo-nos em estado de graça, ainda que ver “doentes incuráveis” por aí não seja um bom motivo para se rir. Mas, lembremo-nos que há “doentes assim” que só o são por não terem coragem de rir, querendo, ao desfilar seus males, angariar certa solidariedade que esperam que venha a se expressar na decisão de abandonar o riso, como se desacreditasse nos remédios, juntando-se, como novos tristes, a eles, àquela sua tristeza (de dar dó), uma tristeza que não é “só” (só) porque eles, tristes, preferem ser tristes uns juntos dos outros.

E vendo que há gente assim, não dá uma vontade louca de rir, mesmo que não se esteja, nesse momento, precisando de remédio assim?!