quinta-feira, novembro 01, 2012

A UTOPIA QUE ENTROU PARA O MAPA







á uma terra de sonhos, contra a palavra, carregada de cientificidade, dos cartógrafos. E, para pesadelos dos mais realistas, dos que só creem em terras que estejam no mapa (e um lugar que não está no mapa é mais contundente prova do sonho), essa terra é bastante real.

Dito isso, desse modo, porém, que ela, essa terra da qual se fala, aqui, sem que se tenha desenhado o caminho das pedras, mesmo que um rabisco apressado, desde que uma pista confiável de como se chegar lá (e, principalmente, em se chegando a essa terra de sonhos, como se sair de lá, para que a viagem não se torne um pesadelo sem fim), fica parecendo que a terra dos sonhos ou não passa de um sonho, sem que isso seja uma maneira de se ratificar o que ela já é, confirmando-se, assim, sua (real) existência, antes, sendo mesmo a confirmação de que, sendo sonho, a terra dos sonhos não existe, ou então é uma invenção – e estas só não têm existência real na cabeça dos que não sabem o prazer de inventar, sequer o de se (re)inventar – de algum cartógrafo invejoso, despeitado, em relação a seus colegas mais realistas, os que só desenham mapas de terra possíveis, sem que haja, aí, um grão de sonho, por jamais ter descoberto uma terra de verdade, chamando-se assim a uma descoberta que, mesmo sendo um pesadelo, não passa perto da fantasia, não fazendo fronteira com o sonho.

Uma terra assim pode estar em qualquer lugar; podendo mesmo existir em um lugar que já existe, realmente, sem que, com isso, o sonho dessa terra se sobreponha à existência real do lugar. Porque, só os realistas ao limite, ou os sonhadores além dos limites, todos uns loucos, não acreditam nisso: sonho pode haver sem que se esteja, estritamente, com os pés fora do chão, tanto quanto a realidade não requer que se os tenha enterrado na terra.

Qualquer terra em que se sonhe é (uma) terra dos sonhos, ainda que, ao se despertar (desse sonho), olhando-se em torno, a realidade seja outra, bem distante do sonho. Aliás, a única possibilidade de que sonhemos, de que sejamos terra fértil para os sonhos, é que existamos, realmente.