domingo, setembro 01, 2013

MARAVILHA CURATIVA







Por mais que se queira contestar as coisas do mundo, deste, porque partir para o outro, além de não ser algo que se se disponha a fazer, por vontade própria, ainda que se leve a maior fé nele, é entrar no campo das especulações, nessas plantações de ideias sem compromisso, necessariamente, com a verdade, valendo-se do legítimo direito de pensar o que se quiser, não se pode negar – embora isso seja plantar uma semente no mesmo terreno fértil das especulações –, contrariando os mais “revoltosos”, há, sim, uma ordem natural para as coisas.

O morde-e-assopra, por exemplo, mesmo que isso pareça, tendo-se falado em especulações, o que nos remete a pensamentos mais criteriosamente elaborados, já flertando com a filosofia (talvez com a Filosofia, já que se há, hoje, um campo que faz florescer qualquer pensamentozinho, é esse, gerando safras portentosas de filosofias em sacos), um exemplo aquém das expectativas. É essa sua ordem: primeiro, morde-se; depois é que vem o sopro, como uma lufada de analgésico que atua no mecanismo psíquico, já que, na carne, a mordida continua a doer – a arder, é melhor dizer.

Se, querendo-se andar contra o vento, para exibir sua força, isto é, a própria, e não a do vento, contestando, por extensão, a lei da gravitação universal, num ato de revolto fadado ao fracasso, parte para, antes, soprar, como se assim se oferecesse, de início, o alívio para uma dor ainda não experimentada, e só então é que se chega com a mordida, de nada valeu o esforço em tanto se soprar (sabe-se que alguns analgésicos atuam melhor em dosagem certa, além da qual, mais do que provocar um alívio maior, pode causar um mal a mais), porque, vinda em sua esteira, a mordida não modera seus dentes, não condescende com seu cravar, não recua diante do sopro que, a essa altura, de ar como é feito, já se desfez em si mesmo.

Por outro lado, ainda rolando entre os dedos a mesma moeda, se se morde, mas recusa-se o sopro na sequência, exercita-se, no máximo, um sadismo qualquer, a não ser que se seja criança, considerando-se que seus dentes em leite a chamam para essa experiência, não fechando nossos olhos para uma vingança infante; ou, se só se sopra, sem ter havido, anteriormente, uma mordida que justifique esses sopros, isso não alcança mais do que um fugaz refrigério – e a depender do hálito, prefere-se conviver com o calor.

Longe de mim cortar a cabeça dos contestadores: de algumas, saíram boas coisas; em outros, o melhor que fizeram na vida foi justamente perder a cabeça, mesmo que tenham preferido(?) perdê-la desse jeito, acreditando na possibilidade, cada vez mais remota, de se tornar um herói, tendo aberto mão de maneiras mais prazerosas de, igualmente, ao sabor dessa decapitada metáfora, se perder a cabeça, até porque, com a minha mediocremente no lugar, pouco dada até mesmo às revoluções que lhe são permitidas pelo eixo do pescoço, sublimo nesses revoltosos sem causa a minha falta de traquejo para segurar mastros, levantar bandeiras, expor um estandarte de novas ideias.