sábado, março 01, 2014

O MAIS RECENTE SUPER-HOMEM










alavras há que, então ainda desconhecidas na nossa “língua”, ouvidas ao acaso, desmembradas do seu conteXto –e esta, com tal xis no meio, ou quase ali, me cheira a uma palavra um tanto quanto insípida, embora, pelo gosta pelas palavras, ela devesse (me) cheirar(?) inodora-, atiçam, de alguma maneira, certo mecanismo, se é que ele é mesmo assim tão exato, um mecanismo de...desejo. Sem termos com que fielmente associá-las, sem uma imagem que com elas se case, ainda que num compromisso precário, provisório, e que talvez sejam mais inteligentes do que palavras circunstancialmente(!) comprometidas com um para-sempre demasiado longo para qualquer afirmação humana, tendo-se em conta o crédito limitado que se possui desse recurso “temporal”, ao ouvi-las, reconhecendo suas letras individualmente, tal qual se o olfato, não podendo garantir do que realmente se trata, fosse capaz de descrever cada um dos seus ingredientes, pomo-nos a construir-lhes um significado de “encher os olhos”, ou, ao menos, um que seja suficiente para matar essa voracidade visual: alguns significados, como (o de) contexto, parecem evocar nada muito apetitoso, e isso pode não passar de coisa do momento, pois tudo pode mudar, em outro...contexto, enquanto que outros significados, a partir dos mesmos ingredientes, com a ausência ou o acréscimo de um ou outros, além de superlotar os olhos, enchem também a boca, que se deixa levar, umedecendo-se (os olhos, mais raramente, embora haja palavras com enorme potencial de lhes inundar).

Recorrentes algumas, num tempo em que ainda se tem fé...nas palavras...nas coisas...nos homens...num super-homem todo-poderoso, sem temor sequer de criptonitas por escrito, ainda nos sobram algumas palavras, seja qual for o seu contexto original, que soam solenes, apesar das certezas que juramos (por quem? por Quem?) ter do seu estado esfiapado, quando olhadas de perto. Dalmática (Alva?), sobrepeliz, ou uma capa esvoaçante mal cobrindo um corpo desenhado sob a malha justa, brocados e...bem, continuar terminaria por atulhar os (nossos) olhos, embora para muitos todas essas palavras, até as que se renovam pelas continuações de tempos em tempos dos mesmos super-heróis, já não façam sentido, hoje, quando tecidos e vestes seguem uma outra moda. Antes, porém, que isso aconteça, que os olhos fiquem sobrecarregados, introduziremos, sub-repticiamente, uns ratos nesse dicionário talar, como se nada tivéssemos a ver com isso, sendo deles a total responsabilidade, atraídos como são pelas palavras antigas, ou responsabilidade única delas, das próprias palavras, sedutoras, por natureza, com sua pompa, mesmo quando querem expressar humildade, com sua mal disfarçada queda pelos afiados dentes de roedores contumazes.

E agora já temos em vista, satisfazendo necessidades incrédulas, panos rotos, linhas esburacadas(?), brancos amarelados -quando não com outras manchas. Como sabemos disso? Ora, só um tolo acreditaria nesses significados de encher os olhos. E nem é preciso chegar perto, pois o espetáculo, apesar de nele não mais se crer, pode ser desolador. Querendo, se se tem estômago suficiente, ou apenas bem treinado para essas cenas, aproximem-se; olhem lá!...vejam quanta desolação! Em vez de ratos bem nutridos, com todas as letras que os fariam doutores, sequer os vemos; não há sinal deles; e o que é ainda pior para as certezas alimentadas a pão-de-ló, com as palavras mais finas, estão todas elas, as palavras, intactas, a não ser por um “c” que não lhe altera o sentido, embora possa, na língua, causar uma certa estranheza em quem com ele já se acostumou. Estão todas lá, e não só correspondendo ao que delas, um dia, se esperou, como até superando expectativas: para quem tem estômago, um espetáculo...consolador.

Os olhos, porém, “cheios”, não se dão por vencidos, e, acusando o peso, loucos para se “aliviarem”, vomitam, vindo sabe-se lá de que profundidade, um contexto qualquer, e com ele, olhos empanturrados, com comida ainda de reserva, assegurando, se se pode mesmo confiar em olhos assim, que se deixam encher, que tudo não passa de uma fantasia, talvez sem saberem, cheios, quem sabe, de porcaria, que é justamente disso, olhos como são, que eles próprios se alimentam.

Uma capa de bom tecido sobre os ombros de um homem já o torna um não-qualquer-homem. Sobre, de pano alienígena, outro homem, um que supera, no entanto, todos os outros, independentemente do tecido que esvoace às suas costas, torna-o um homem-aquém, apesar de seus poderes além. Mas é quando um pano qualquer, roto, resto de um que já era de qualquer tecido, sobre os ombros, ainda leves, presume-se, de uma criança, ora divertindo-se com voos de cujo perigo não suspeita, sem suspeitar igualmente dos poderes que não tem, e ainda mais daqueles que verdadeiramente tem, como o de ser super, mesmo que ainda não tão homem, ora, continuando sua diversão, fazendo-se (de) togado, julgando, a seu bel-prazer, instaurando uma jurisprudência que se esgota no próprio ato, condenando sem provas, absolvendo por pena, punindo pela lembrança dos próprios castigos que lhe foram impostos, mas esquecendo-se de tudo ao desvestir a fantasia.