terça-feira, abril 01, 2014

SEGREDO DE CONFISSÃO








sar a razão para convencer um imbecil é só o desperdiçar de um imbecil que, embora haja em quantidade, bem mais do que há razão, se é que se a pode mensurar, é mais difícil de se agarrar, já que suas razões, de tão simples, fazem qualquer razão parecer coisa de um imbecil.

E é preciso preservá-los, principalmente da razão, que é um meio francamente hostil à sobrevivência dos imbecis que cultivam, de forma ostensiva, o que chamam de (sua própria) razão, mas que é só a defesa para os seus gestos, naturalmente imbecis, todos tão típicos para facilitar o reconhecimento comum, aproximando-os uns dos outros, de todos esses sem-razão, ou com a razão própria dos imbecis.

Não que ter (alguma, que seja) razão seja prova definitiva da falta de imbecilidade. Quem só a tem é igual aos imbecis que crêem tê-la e que quase chegam a convencer todos, com argumentos sedutoramente compreensíveis, de que além de serem bastante razoáveis, passam longe de ser uns...imbecis, deixando em quem assim acreditou a sensação de serem, eles próprios, os verdadeiros imbecis.

Não nos iludamos -e ilusão não é coisa de imbecis, como pensam muitos razoáveis de fachada: há imbecis com sua própria razão (de ser), há os que têm razão (alguns são apenas imbecis bem disfarçados), os que só a tem -e não é preciso mais dizer o que estes são; e, por fim, há os que não querem, de maneira alguma, ter razão, acreditando que tê-la é já ser um rematado imbecil: e adivinha o que estes são?!

A essa altura, e com razão, posso, a olhos razoáveis, ter criado uma nova categoria de imbecis, e a cada vez que me vou estendendo, dou indícios precisos da minha falta de razão. Acertaram em cheios os olhos: sou um dos muitos sem-razão. Só não admito, ainda, ser um imbecil de carteirinha porque como se justificaria que não seja um também quem me seguiu até aqui, sem qualquer razão para isso?

Façamos assim: por enquanto, sou só um quase-original no modo de escrever minhas confissões, mas logo depois de ser lido, não acredito em qualquer hesitação: imbecil! é assim que passarei a ser chamado. E se chamado for, atenderei, desde que não me chamem alto demais, pois, nesse caso, apareceriam tanto, de uma só vez, crendo-se escolhidos, tantos sem-razão escondendo que são imbecis, que se teria a impressão de que este mundo sem razão é feito somente deles -eu no meio.

E como deve ser doloroso se descobrir sozinho num mundo tão adverso! E digo isso pensando em algum razoável que tenha escapado de sua própria humanidade. Generosamente, se souber de um, convidarei para o nosso lado, o lado dos imbecis que hão-de convencê-lo de que é uma imbecilidade sem tamanho permanecer assim tão só, e mais, que tudo o que dizem a nosso respeito é despeito, e que, vê se não tenho razão!, se só há um com razão, a razão está do nosso lado, seu imbecil.