quinta-feira, janeiro 01, 2015

NHACS E NHOQUES





Mama mia! E, desta vez, a mamada (ou será mais uma mamata, já que, às vezes, o que se toca, como neste assunto, agora, é uma tocata) não se dará nas tetas...da vaca, mas, em iguais úberes da porca.

É que a porca miséria, orgulhosa como só ela – porque, contrariando algumas expectativas, também a miséria pode, querendo posar de humilde, revelar-se, ao fim, muito orgulhosa, e nisso não estará tão só assim –, de sua origem italiana, não importando, embora, com tal nacionalidade, entre nós, seja persona(?) importada, que tenha vindo de chiqueiro semelhante aos que há em qualquer outro lugar do mundo, atendendo este a exigências naturais das porcas, sem que a lavagem que se lhes é oferecida signifique, afora o preconceito bíblico provado pelo filho pródigo, necessariamente, evidência de miséria batendo à porta, achando, a porca em questão, chique, somente por esse acento italiano, chegando, tanto que vive com seu focinho empinado, a cuspir, em quem se disponha a lhe oferecer a cara, dando-lhe ouvidos, mesmo que a maioria prefira lhe virar a face, sem oferecer a outra, esse seu passaporte mediterrâneo, dizendo-se, quase ficando nos cascos (se os tivesse), se alguém para isso torce o nariz, legítimo presunto de Parma.

Como (e eu não sou desses) se sabe (será que sou desses?), presunto assim não é para qualquer um; menos ainda para quem está à beira da miséria, sentindo-se até um porco, seja pelas concessões que tem, agora, de fazer, em nome da saciedade de uma necessidade tão primária, a certos pudores, alimentado em anos de fartura, a ponto de um pão amassado pelo diabo, quentinho, considerando de onde vem, ser fina iguaria, se comparado ao que é obrigado a comer: e bem que o diabo poderia, no meio desse seu pão, intrometer umas boas fatias de presunto – se de Parma, Dio santo, seria o “paradiso”.

No que diz respeito à miséria, essa mesma para a qual alguns, nada miseráveis, nada que se compare aos miseráveis de verdade, embora, filósofos, façam dela, da verdade, seu pão de cada dia, cobram respeito, ela não conhece fronteiras, ainda que possa sentir maior atração, talvez por ser aí mais bem recebida, por certos grotões, alguns incrustados em aparente opulência, despertando até a desconfiança de que se trata, já suprida, entre os opulentos, as necessidades mais imediatas, as mediatas, as (necessidades) que sequer são tão necessárias assim, de um arranjo estético, patrocinado pela opulência (em pessoas), criando esse contraste entre o muito e o bem pouco, porque também os poucos com muito se nutrem do que chamam de arte, reclamando, com voz nas alturas, mesmo que o façam com a discrição dos sussurros, seu direito a uma expressão estética, mesmo que para isso tenham de recorrer a uma porca, a várias misérias, até, diante do resultado, mesmo que não se trate de italiano de verdade, sem nenhum parmegiano entre seus ascendentes, sem segurar a própria língua, soltam um “porca miséria”, orgulhosos de si, dessa obra que junta sua opulência barroca ao minimalismo (do) miserável.

Presunto de Parma? Já me dou por satisfeito com um apresuntado; na falta deste, com um pão besuntado com manteiga: e não admito a falta desta, porque até um miserável tem lá seu orgulho.

CHICO VIVAS