sábado, maio 01, 2010

LAMENTO: BETE DAVIS’ AIS











em gente que, dizem os mais observadores, os que parecem dar mais atenção à fome dos outros do que à própria, salvo ao seu apetite por observar os hábitos alheios, come com os olhos: é o que dizem.


Caindo eu em minha própria armadilha, língua que, descontrolada, facilmente, nos trai, armadilha feita, aqui, com estas linhas, frágeis, em sua virtualidade, só à primeira vista, mas, embora longe de serem fortes como (um bom) escrito, suficientemente capazes de capturarem a presa, eu diria que, mostrando já como observo a vida de terceiros (e observar a vida de terceiros no quarto é, segundo alguns, desculpa de primeira para não se sair do cinema), por mais que isso esteja já na cara, à vista de quem quiser ver, há mesmo uma gente, universalmente espalhada, sem que isso signifique uma equilibrada distribuição demográfica, que fala com os olhos, sendo isso um excesso de expressividade, segundo as primeiras impressões, podendo ser também carência das grandes.

Porém, sem querer fechar os (meus) olhos a quem prefere, à própria língua, usar os olhos, há uma gente com bem mais eloquente expressividade ao falar, muito mais do que eu, com estas linhas que escapam dos meus dedos: são os que falam pelos cotovelos – como, não há como disfarçar, também eu faço, aqui.

Não sei com os olhos dizer o que quero, aparentemente, preferindo um método mais digital e, por ironia das palavras, dos mais antigos métodos de se dizer, ainda que não tenha sido o primeiro: e talvez essa minha preferência seja mais uma desculpa, porque, com as mãos, eu possa me manter a distância, enquanto que a linguagem dos olhos requer a viva presença de quem, assim, o diz, mesmo que faça cara de peixe-morto, com olhos vidrados, sendo isso até um recurso a mais em seu arsenal de expressividade(s).

Por não saber, admiro quem sabe fazer dos próprios olhos seu jeito de dizer: e se não quer dizer, basta fechá-los; e se quem ouve não deseja mais (os) escutar, basta fechá-los: digo, os próprios olhos, os que, então, estão na escuta, e não os olhos que são próprios de quem com eles, ora, fala, porque isso seria fazer do peixe-morto, subtraindo-lhe a vida que lhe dá esse hífen, um peixe, simplesmente, morto.

Há quem possa argumentar que falar com os olhos é um caminho aberto para a dissimulação – como se “dizer” com as mãos, como se falar pelos cotovelos estivesse imune aos enganos propositais! Em geral, coisa para poucos, falar tão bem assim com os olhos é uma arte, desenvolvida, desde os tempos do cinema mudo, quando os olhos pareciam mesmo maiores do que a cara que os continha, mal contendo-se eles em não saírem pela tela, por atores e atrizes (especialmente, por estas).

Já agora, no entanto, com tanto para ver, não podendo nos dar ao luxo sequer de uma piscadinha, que isso pode significar perder uma sequência inteira, olhos que falam são um incômodo, uma marca de quem não sabe dizer (a que veio), sendo mais rentável que se diga logo, de cara, sem deixar dúvidas, por desse jeito todos entendem, sejam os que falam pelos cotovelos, sejam os que, indo ao cinema para olhar a vida alheia, já acostumados a esse figurado buraco de fechadura, acham que fixar seu próprios olhos nos olhos de quem poderia dizer com a boca é pura perda de tempo, porque, afinal, há tantos filmes, tanta vida, lá fora, para...se ver.




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