terça-feira, janeiro 01, 2013

DI-FAMA (QUE) EU ENTENDO


É sabido do que os homens, sabidos ou nem tanto, ou simplesmente uns tolos por se crerem assim tão sabidos, são capazes para alcançar a fama: e, quase sempre, embora não seja rigorosamente necessário que sejam mesmo sabidos, já que alguns podem se valer do acaso (esse nome que, frio demais, costuma ceder seu lugar a uma “sorte” mais acalentadora), para se ter a tal fama se torna indispensável dar-se a conhecer, por vezes, não se podendo mais distinguir, tão tênue a linha de separação, se a fama traz esse (re)conhecimento ou se, ao contrário, ser (re)conhecido é que, como consequência, cauda indissociável à massa luminosa que forma o cometa (famoso, ainda que, aqui, não tenha nome), arrasta atrás de si a fama.


Este homem(?), no entanto, não sei se por se achar muito sabido (acreditando ser rematada tolice buscar a fama pelo mesmo método que tantos, há tanto, o fazem) ou se, mesmo sem o saber (mesmo sem se saber assim), por ser o tolo em pessoa, resolveu buscá-la, nesse joguinho de esconde-esconde de que a fama gosta, justamente onde, supõe(-se), ela não se esconderia jamais, talvez por imaginar, como faria qualquer criança mais “sabida”, que, sabida, a fama não iria se homiziar num lugar já conhecido, num daqueles que seria primeira opção na procura. Assim é que, otimista, sorrindo como se sentisse o cheirinho da fama, se decide pelo anonimato.


Lá chegando, a primeira surpresa: não está só. Segunda surpresa: cria que, embora houvesse muitos anônimos no mundo, cada um era só, como se não lhes fosse dado se juntarem. Lá chegado, decepcionado ao perceber que sua ideia original havia sido copiada (que sabidões!), não lhe passando pela cabeça que fosse o próprio copista da ideia (original?) dos outros, mais um deles, viu que, além de mais concorrentes do que pudera imaginar (na verdade, imaginara que no anonimato estaria só), aquele não deveria ser um lugar frequentado pela fama, considerando que, pela quantidade de anônimos ali à espera, almoxarifado de solitários-de-prateleira, ela nunca dera as caras, não compreendendo, no rastro dessas conjeturas, como eles ainda se mantinham em tal lugar, e não desistiam de uma vez, seja da fama (o que diminuiria a concorrência), seja de alcançá-la por ali.


Que há homens ciscando em torno da fama é certo. Muito provavelmente, haverá algum que resolva, esperto como ele só, seguir na contramão, como para evitar o tráfego congestionado, e acabe indo em direção ao anonimato: quem sabe se a fama, sem paciência para engarrafamentos, não esteja lá, a sua espera? Se um desses lá chegar, não há de encontrá-la. Encontrará, porém, todos aqueles homens ainda lá, pois, sabe-se lá por quê, mesmo não achando o que (tanto) procuravam, deixaram-se ficar, ou apenas não concebem mais sair dali, daquele anonimato: e nem este relato aqui há de dali lhe arrancar, atirando-o nos braços da fama.


CHICO VIVAS

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