Em princípio, sem que eu saiba quem “inventou” essa tese –
e nem é nenhuma “tesão” –, tudo deve sempre começar...do começo: e ouvindo
isso, qualquer um, que nunca tenha escutado falar em lógica formal, em
dialética, e que-tais, há de dizer que seria mesmo perda de tempo, desperdício
de pensamento se elaborar uma tese (seja isso o que for) só para se dizer o que
todo mundo já sabe, que, enfim, é do começo que tudo deve começar, ora!
A princípio, e que
não é a mesma coisa que já se disse anteriormente, tendo-se começado – e, aqui,
ainda não o fizemos, embora, formalmente, se há alguma lógica em tudo o que se
diz, sim, já demos a partida –, espera-se chegar, se não se perder no meio do
caminho, a um fim: se bom, isso depende muito da fé que se tenha, da disposição
em se ultrapassar obstáculo que se ponham no (meio do) caminho, mesmo que tal
empecilho não seja uma simples ladeira, mas uma verdadeira colina. No entanto,
seja para nos fazer rir – pelo menos aos que riem de qualquer coisa, que acham
graça em tudo – ou por uma ironia não se sabe de quem, talvez só uma
coincidência sem interferências pessoais, o fim, aqui, chama-se Começo.
Sendo assim, sairemos
(porque não nos enganemos com tantas linhas: a verdade é que ainda nos
encontramos no mesmo ponto de partida), do começo, claro (seria ironia
demasiada, inverossímil até para quem gosta tanto de inverter a ordem, sem,
porém, jamais a contestar), nosso destino é alcançar um fim. Contudo, chegando
lá, o máximo que poderemos afirmar, depois de tanta travessia, de cumprida essa
jornada, tendo ou não escalado uma colina, podendo nem mesmo ter sido preciso
subir uma suave elevação, descendo-a, na sequência, é que estamos (de novo?) no
Começo.
Com isso não quero
afirmar que começo e fim são a mesma coisa, que, assim, estaremos sempre
andando em círculos, nunca avançando, sem varar a fronteira imposta, deixando
mundos desconhecidos (se é que ainda resta algum, neste mundo) mergulhados na
bruma da falta de (nossa) descoberta – o que, baseando-nos no que fizemos das
nossas velhas descobertas, olhando para seu estado atual, talvez seja o que de
melhor pode lhes acontecer: permanecerem desconhecidas.
A essa altura – e não
custa repetir, por mais que isso já esteja cansando, que, círculos cumpridos,
ainda estamos lá, no começo, sem que o confundamos com o Começo, que, já ficou
esclarecido, é o fim, ao menos do ponto de vista de quem o tem como destino,
pois, para quem se encontra já lá, no Começo, ele é, se se quiser sair dali,
desejando-se alcançar um outro ponto, o começo, e ponto final – pode-se estar
perguntando a razão de tantos descaminhos. Eu respondo: apegado como sou a
formalidades, não sei partir do fim, simplesmente, a não ser que, partindo daí,
queira chegar ao começo, tão-somente invertendo a ordem; desse modo, temeroso
de conceber um novo mundo (de coisas), acho mais seguro partir do começo, ainda
que não haja garantia, só por ter dado a partido, de que vou, afinal, chegar a
algum lugar.
Agora, sim: foi dada
a partida. E aonde isso vai dar, nem sei se sabe disso Nosso
Senhor do Bonfim.
Senhor do Bonfim.
CHICO VIVAS
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