Lá se foram os dias de marcha-soldado, com a cabeça devidamente(?) de-papel, num exercício de militarismo precoce, em parte, sustentado pela imemorialidade das guerras que parece lhes emprestar certo atavismo, psicológico ou histórico - na hora da batalha, isso pouco importa -, especialmente entre os meninos, mesmo entre os pacíficos, talvez bem mais entre estes, como antídoto à suspeição, por um diagnóstico comprometido com os preconceitos do próprio médico, de indesejável feminilidade, não raro sendo apenas o resultado caótico de uma pantomima infantil, desequilibrada por natureza (até aprender a andar com as próprias pernas sobre o fio da aceitação geral, ainda que pagando o preço de usar, então, "pernas mecânicas" e que sequer foram moldadas levando-se em consideração o modelo que virá a usá-las, mas uma prótese que, tamanho único, "tem" de entrar, tem-se de nela(s) entrar, se se quiser andar com alguma certeza de ser aceito, caso contrário, o fio é frágil), confundindo-se esses trejeitos desajeitados com um desvio de conduta, sem mesmo sentir responsável por esse ziguezague, a mão que, pela mão, vem trazendo essa infância adiante no tempo.
Já não se veem essas "manobras de guerra" nos pátios das escolas, restando, quando muito, numa saída programada, a ordem unida, mão tocando o ombro do colega à frente, assim como o seu é tocado, ao menos agora com uma mistura de gêneros, já que ar Forças Armadas admitem o feminino: e não é de todo estranho especular que o fim dessa pedagogia coincide com o rompimento de uma trama histórica, contemporânea, urdida nos quartéis (para onde iriam - para onde mais iriam? - os soldados, caso não marchassem "direito"), com efeitos perduráveis, cuja não percepção imediata, como um vistoso quepe de papel, talvez de jornal com as notícias das guerras do dia anterior, muito maior esse chapéu "oficial" do que a cabeça assim ungida, evidencia seu enraizamento, dando seus frutos com "naturalidade".
Crê-se, agora, ser essa era já afastada demais e isso só porque se pode gritar palavras de ordem, numa insubmissão à autoridade que não se renova, lançando-se mão de um repertório que talvez reforce mais, por um mecanismo sutil, a autoridade contestada do que ameace sua solidez, sem que se ouça, de pronto, uma ordem de prisão, havendo, inclusive, num arranjo de enrubescer os mais nostálgicos, proteção policial para a desordem(?) ensaiada: catártica para os que se acreditam dela protagonistas, mesmo que não tenham uma fala própria e só façam parte do coro, nessa tragédia juvenil, que assim sentem-se como se vencendo os perigos de um rito de iniciação misterioso, aptos para a vida de desafios - e, por ironia, é possível que o próximo desafio seja apresentar-se, no outro dia, logo cedo, pela manhã, que é a hora dos soldados entrarem na ativa, para o...serviço militar obrigatório, reservista de prontidão para uma guerra sem fim -, e não menos propiciadora de uma catarse para a vasta assistência, seja aquela da primeira fila, seja a que passa pela calçada desse teatro de marionetes, sem fios, o que reforça a ilusão de liberdade, na medida em que, patrocinadores passivos desse desfile, cuja iconoclastia se resume a quebrar ídolos já trincados, acham-se assim cumpridores dos seus deveres didático-paternais de mostrar aos filhos que é preciso ir à luta, desde que a manifestação não ocorra justamente na hora do jogo da seleção, na hora marcada para esse delicioso ópio, talvez o único, dado o preço das papoulas, a que se terá acesso.
"E de repente é aquela corrente pra frente..."
Nenhum comentário:
Postar um comentário