“Nunca” – e eu até me prometi, um dia, nunca repetir isso
–, jamais me tendo esquecido disso, nem de quem (me) disse, o que pode provar o
quanto nos lembramos, se outros comigo partilham de tal memória, do que nenhuma
falta faria, se nos esquecêssemos –, é mesmo um “lugar que não existe”. Mas, há
sempre a possibilidade de que exista, ou tenha, um dia, existido, porque, ao
que parece, nada dura para sempre (nem “nunca”), sendo que nós é que, talvez,
tenhamos desse lugar nos esquecido.
Não que o lugar, em
si, seja assim, um lugar esquecido (que, muitas vezes, lugares assim se tornam
os mais lembrados, quando, por exemplo, sai-se em viagem, em busca de
aventuras, à procura de lugares diferentes, cansados já os viajantes dos
lugares sempre lembrados, desejando, desse modo, um lugarzinho esquecido, desde
que, ao menos, seja lembrado por alguém que lhe dê tal dica de viagem). O que,
na verdade, não existe, até, ao menos, que (me) provem em contrário, é um lugar
tão esquecido que o seja até por quem ganha a vida indicando lugares assim a
viajantes comuns (embora se creiam, por preferirem tais lugares, bastante
raros), ainda que, de tanto os indicarem, fazendo disso já um lugar-comum,
quase se esqueçam, às vezes, durante sua indicação, de fingirem, diante de
viajantes, que o lugar, para que eles se sintam raros, é esquecido, mesmo que
faça disso seu ganha-pão, já tendo perdido a conta, só num dia, de quantas
vezes indicou o mesmo raro lugar esquecido, e que continuará conhecido como
lugar esquecido, toda vez que o viajante mostrar suas fotos de viagem,
apontando, com detalhes, o lugar esquecido, sem se lembrar de, nesse momento,
fingir algum esquecimento.
Se “nunca” é assim,
nem por isso, contrário àquele, “sempre” é seu necessário verso, portanto, um
lugar que (sempre) existe, um lugar que não sai da lembrança, a ponto de não
aparecer dos catálogos de viagem, a não ser no de algum autor mais ousado, um
que crê que, de tanto visitarem os mesmos lugares esquecidos (e que não saem da
cabeça dos viajantes que procuram lugares não comuns), esses que vivem viajando
hão de pensar em visitar um lugar justamente contrário, um lugar (sempre)
lembrado, e tanto que, deixado de lado por ser o que é, pelos que buscam
lugares (mais) esquecidos, tornaram-se, verdadeiramente, esquecidos, ou quase,
já que o ousado empreendedor, cada dia mais, aumenta o número de clientes
dispostos a irem SEMPRE aos mesmos lugares, lugares sempre lembrados, a ponto
de já quase esquecidos.
Nunca-e-sempre é
somente um jogo – de palavras, de contrários, de memória, assim como
ir-e-voltar, lembrar-e-esquecer, porque é mais fácil não se esquecer de algo
(de algum lugar), se se tem na cabeça que, a qualquer instante, pode-se dele
não se lembrar, sendo, o que se lembra e o que se esquece, não um jogador, mas,
no meio do campo, o brinquedo do lembrar e do esquecer, os verdadeiros
jogadores, tendo a memória como árbitro, orgulhosa como é de se lembrar de
tudo, embora, sendo quem é, possa, na mesma medida, de tudo se esquecer.
CHICO VIVAS
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