domingo, fevereiro 01, 2009

O HOMEM ESTÁ NU



s derrotados, mais cedo ou mais tarde, acabam por dar um jeito de transformar, nem que seja somente aos seus próprios olhos, aquilo que melhor sabem fazer - perder - numa grande vitória, mesmo sabendo que, no mais tardar, o mais cedo possível, essa autoimagem vitoriosa restrita, portanto, ao seu próprio ponto de vista, esfacelar-se-á, a menos que supere esse seu olhar pessoal, e atinja o que sempre fora, desde o início, seu alvo primordial: o olhar alheio, como um legitimador de sua vitória, ou de suas derrotas, o que já o faz (a seu próprio olhar) um vitorioso.

Os vitoriosos, quase que assim por natureza, terminam, mais dia menos dia, nessa sucessão de vitórias em que se transformou sua vida, verdadeiro cotidiano nem surpresas, caindo em armadilha semelhante àquela em que caem os perdedores (quase que por natureza) - o que, diga-se, não lhes é nenhuma surpresa, considerando-se que nisso, com o tempo e as repetidas vitórias, em que eles se saem melhor, ainda que, vitoriosos como são (sempre), não haja, à vista, possibilidade de não se saírem bem, ou, para se sagrarem em primeiro lugar, como convém ao que são, saindo-se melhor (ainda).

Vitoriosos, vistos assim não apenas por si mesmos, coisa que até aos perdedores é dado, mas também como ganhadores contumazes aos olhos dos outros - o que é o desejo maior de um perdedor que faz dessa sua "sucessão" (se se pode dizer assim) de derrotas uma vitória -, um dia, dirão, com ar de derrotado, que não há vitória em ganhar sempre, espalhando, em volta, humildade-em-pó, que até pode ser sincera, porém, ocultando de si mesmos a verdade por trás do que dizem: se se ganha, toda vez que se entra no jogo, isso dilui o valor da vitória, na medida em que esta, essência, juntamente com a derrota que lhe é reversa, de toda competição que se preze, torna-se certa: e adeus surpresa.

Mas, acene-se a um perdedor, mesmo que não um que já se vai acostumando a sempre perder, e sim a um que, se não está perdendo pela primeira vez, já deu de cara com vitórias pessoais, sempre esquecidas, quando se encara uma (nova) derrota, com uma vitória, reconhecida por todos os olhos (menos os dos perdedores invejosos), e anunciada, portanto, sem surpresa para ninguém, nem para si próprio, e veja-se se esse perdedor da hora há-de se negar a agarrá-la, só porque já tinha a certeza de que ganharia, de antemão.

Talvez, e não estou plenamente certo disso (sequer me arrisco a palpitar, já tendo experimentado, em casos assim, derrotas sem conta), um vitorioso que não conheceu, em sua vida de ganhos, uma derrota, ou se a conheceu, isso se deu há muito tempo, o suficiente para já ter ficado encoberto pelo esquecimento, ou foi soterrada por uma avalanche de vitórias, fique tentado, diante de oferta semelhante, mas não igual, a largar de mão: e não porque se lhe ofereceu, mais uma vez, uma vitória, além do mais, sem surpresa, como está acostumado, mas porque o que mais almeja é algo que o surpreenda, mesmo que uma derrota, quem sabe se porque está convicto que isso faz parte do jogo, e que, depois dessa, outras vitórias, como sempre, hão-de lhe vir.

Se sou um perdedor que sempre perde, sucessivamente, já não me surpreendendo com isso ou se sou um desses vitoriosos que, exaustos de tantas vitórias, de tanta falta de surpresa, abre um sorriso quando, em fantasia, imagina-se perdendo? Quem me conhece, lendo-me desde o inicio, percebendo, sem surpresa, o que estava por vir, já deve ter adivinhado.