sábado, fevereiro 01, 2014

SORRIA, ESTAMOS SENDO FILMADOS!







isfarce, porque estamos sendo observados!

Como se isso fosse alguma novidade; como se houvesse algo de novo em tal observação. E de nada adianta o disfarce, já que muito se o usa, justamente para ser observado, para, em meio a tantos que se mostram, havendo observadores em menor número – embora haja os que, se muito disfarce, conseguem ser ambos: observado e observador –, chamar alguma atenção, não percebendo, tantas vezes, que, por serem bem menos, os que fogem de se tornarem, efemeramente, o centro das atenções (porque isso dura pouco, já que o centro muda a todo instante), acabam, a sua própria revelia, alcançando o objetivo tão querido pelos outros, pelos que, querendo, a qualquer custo, aparecer, são capazes de fingir que não, num me-deixem-em-paz de mentirinha, usando disfarce – só para chamarem a atenção.

Mas, e o que faço, eu, aqui, no teu círculo, forçando e empurrando, só para chegar ao centro, sendo, assim, o alvo das atenções – da tua, em particular, mesmo que não me baste estar no meio, exato, calculado com compasso, mas que os outros, os que não conseguiram chegar lá, saibam a que ponto eu cheguei: o ponto central?

Com meus disfarces, inclusive o mais comum – e que, por isso, já deveria ter sido descartado, na medida em que, conhecido como é, não cumpre mais sua precípua função, e que não é outra, senão a de (me) esconder –, tento passar a imagem de que prefiro a periferia, satisfazendo-me com um ponto qualquer da circunferência, sabendo, se não me esqueci de velhas lições de geometria, que, de onde estou, periférico como sou, estou à mesma distância que qualquer outro, na mesma circunferência, desde que não tenham ultrapassado os limites desse círculo.

Sem disfarces, só a nudez: e esta, não é de hoje, funciona como um bom disfarce, seja porque, usada demais, não chama mais tanto a atenção, passando, então, o nu da vez, quase despercebido, se esta for sua intenção (porque não bastar estar nu para se ter más intenções), ou seja porque atrai os olhares mais atentos às intenções, as supostas, do que, propriamente, ao disfarce em si.

Visto isso – que é uma maneira, puramente retórica, de cobrir a própria nudez, sem se cumular de roupas –, quero dizer que, se vim aqui, ora mostrando-me nu, quando acreditava estar bem vestido, ora, querendo chocar com minha nudez (em palavras), apresentei-me demasiado enfeitado, foi com a melhor das intenções, mesmo que isso, antes de me garantir um paraíso como recompensa por bons atos, reserve meu lugar num sub-solo já abarrotado de gente, todas com boas intenções. E minha intenção não era outra, senão a de demonstrar que sou bem-intencionado, ainda que, para isso, lance mão de artifícios que, chamando a atenção para si mesmos, espanta o observador para o que, penso assim, é o mais essencial, não deixando de considerar que, do mesmo modo que o periférico da circunferência dá forma ao círculo, o contingente, nada necessário, é o que, enfim, norteia e valoriza o que, em essência, é essencial.