quarta-feira, abril 01, 2015

LEMBRANÇA DO BONFIM





Em princípio, sem que eu saiba quem “inventou” essa tese – e nem é nenhuma “tesão” –, tudo deve sempre começar...do começo: e ouvindo isso, qualquer um, que nunca tenha escutado falar em lógica formal, em dialética, e que-tais, há de dizer que seria mesmo perda de tempo, desperdício de pensamento se elaborar uma tese (seja isso o que for) só para se dizer o que todo mundo já sabe, que, enfim, é do começo que tudo deve começar, ora!

A princípio, e que não é a mesma coisa que já se disse anteriormente, tendo-se começado – e, aqui, ainda não o fizemos, embora, formalmente, se há alguma lógica em tudo o que se diz, sim, já demos a partida –, espera-se chegar, se não se perder no meio do caminho, a um fim: se bom, isso depende muito da fé que se tenha, da disposição em se ultrapassar obstáculo que se ponham no (meio do) caminho, mesmo que tal empecilho não seja uma simples ladeira, mas uma verdadeira colina. No entanto, seja para nos fazer rir – pelo menos aos que riem de qualquer coisa, que acham graça em tudo – ou por uma ironia não se sabe de quem, talvez só uma coincidência sem interferências pessoais, o fim, aqui, chama-se Começo.

Sendo assim, sairemos (porque não nos enganemos com tantas linhas: a verdade é que ainda nos encontramos no mesmo ponto de partida), do começo, claro (seria ironia demasiada, inverossímil até para quem gosta tanto de inverter a ordem, sem, porém, jamais a contestar), nosso destino é alcançar um fim. Contudo, chegando lá, o máximo que poderemos afirmar, depois de tanta travessia, de cumprida essa jornada, tendo ou não escalado uma colina, podendo nem mesmo ter sido preciso subir uma suave elevação, descendo-a, na sequência, é que estamos (de novo?) no Começo.

Com isso não quero afirmar que começo e fim são a mesma coisa, que, assim, estaremos sempre andando em círculos, nunca avançando, sem varar a fronteira imposta, deixando mundos desconhecidos (se é que ainda resta algum, neste mundo) mergulhados na bruma da falta de (nossa) descoberta – o que, baseando-nos no que fizemos das nossas velhas descobertas, olhando para seu estado atual, talvez seja o que de melhor pode lhes acontecer: permanecerem desconhecidas.

A essa altura – e não custa repetir, por mais que isso já esteja cansando, que, círculos cumpridos, ainda estamos lá, no começo, sem que o confundamos com o Começo, que, já ficou esclarecido, é o fim, ao menos do ponto de vista de quem o tem como destino, pois, para quem se encontra já lá, no Começo, ele é, se se quiser sair dali, desejando-se alcançar um outro ponto, o começo, e ponto final – pode-se estar perguntando a razão de tantos descaminhos. Eu respondo: apegado como sou a formalidades, não sei partir do fim, simplesmente, a não ser que, partindo daí, queira chegar ao começo, tão-somente invertendo a ordem; desse modo, temeroso de conceber um novo mundo (de coisas), acho mais seguro partir do começo, ainda que não haja garantia, só por ter dado a partido, de que vou, afinal, chegar a algum lugar.

Agora, sim: foi dada a partida. E aonde isso vai dar, nem sei se sabe disso Nosso
Senhor do Bonfim.

CHICO VIVAS