Persigno-me. Mas, do
que me vale – valha-me quem pode me valer, quem tem para isso poder! – carregar
assim minha face, que já tem lá, em si, seus traços, e que não são poucos, a
essa altura da vida, de uma que não se fez suficiente para que, pouco crescido,
possa acrescentar, aos meus traços característicos, um certo ar de altivez,
carregando este meu rosto com cruzes – num sinal de quê? – feitas com a lateral
do pequeno polegar, pois ainda quando grande, contrariando os outros, inclusive,
de todos, o mínimo, é sempre, dos dedos, o menor?
Uma dúvida me
persegue, estando sempre onde eu estou, por mais que me aproveite dos momentos
em que, isso assim me parece, sua guarda está (em) baixa, com sentinelas, que
deveriam estar sempre com armas postas, em punho, prontas para conter um
levante, um ataque, fora do seu posto de observação, do qual exerce, sobre
nossas ações tão “terrenas”, um controle aéreo, mesmo que sua imaginação
rotineira não conheça maiores vôos. E se essa sua perseguição fosse tão-só um
correr atrás de mim, sendo ela uma dúvida dessas que, de tão corriqueiras,
quase que se as doma, se as domestica, a ponto de se sentir sua falta, se se
olha para trás e, contrariando as expectativas de uma vidinha repetitiva, não
mais se a vê ali, pronta e a postos para continuar, sabe-se lá até quando, no
calcanhar.
O problema é que se
trata de uma dúvida cruel. E dizer assim soa a uma fácil recorrência, a uma
expressão hiperbólica de uma hesitação que talvez nem passe de (se) saber se
(se) deve dar livre expressão aos exageros que (nos) são próprios ou se (se)
deve contê-los numa fórmula que, não lhe subtraindo sua face real, não a cumule
com traços que não lhe pertencem, de direito. Não! o que me assusta não é a
dúvida substantiva, abstrata demais para quem, de fora do armário, não se vê às
voltas com uma decisão que se tem (de tomar) na gaveta: isto ou aquilo –
podendo ser ambos, já que aos olhos não há, muitas vezes, diferenças
significativas que faça isto tão diferente daquilo, tornando assim indiferente
que se opte por um ou por outro. Susto mesmo me prega esse “cruel” adjetivo que
faz de uma dúvida, passível de convivência, até sinceramente cordial, a
probabilidade de inomináveis castigos; e estes em qualquer caso: fazendo-se uma
escolha, se se escolhe errado, ou não fazendo nada, insistindo na dúvida,
dando-se a si mesmo esse benefício, sem conseguir (se) sair dela,
alimentando-a, robustecendo-a, o que, fatalmente, (quem duvida disso?), a
levará a se tornar cada vez mais o que já é – cruel!
Talvez seja o caso de
se tomar, de pronto, uma decisão, qualquer que seja ela, acreditando-se que por
pior que tenha sido a escolha feita, isso não se compara com os rigores,
crudelíssimos, de se continuar deixando-se perseguir, especialmente quando se anda,
nem sempre de caso pensado (os melhores casos ficam longe da razão), em vias
que não primam por serem conhecidas como avenidas de infinita retidão.
Contudo, não nos
enganemos e, assim, confundamos essa crueldade, embora aquém dos delírios
masoquistas de antecipados castigos, com uma face compassiva, a não se entender
como se pôde passar tanto tempo fugindo-se dessa dúvida, agora tomada como uma
duvidazinha. O cruel de toda dúvida é ser a dúvida que é. Sem qualquer certeza
de que as cruzes desenhadas na fronte, sobre os lábios, próximas do coração
possam mesmo nos livrar dos traços, duvidando-se já se ser cruel não é uma
saída para enfrentar tamanha perseguição, deixo o tempo passar.
Ah! e quantas
dúvidas, com cara de perseguidor cruel, não eram nada mais do que o efeito da
luz e da sombra (da própria dúvida), criando monstros de penumbra. Mas, em
compensação, quantas crueldades, tomadas, a princípio, por um castigo merecido,
não se revelaram bem piores do que aquela sua domesticada face!
CHICO VIVAS
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