sábado, março 08, 2008

COMO ISSO IR-RITA!







rregaçar talvez seja um gesto de impetuosidade juvenil, quase uma (pedagógica) exibição de puberdade, esse tempo em que se pode, quem assim pode, manter-se à margem do trabalho, seja ele qual for, qualquer um que, deixando a alcunha genérica de tarefa do dia-a-dia, alcança o status de trabalho – labor, para quem prefere variar, e não de trabalho, mas os nomes que se lhe dão, mais especialmente do trabalho braçal, aquele em que entra o exercício dos músculos.

Já arregaçar as mangas, mesmo naqueles que, não exigindo o trabalho o contrário, trabalham em mangas de camisa, é um esforço deliberado, ressalvando-se as ocasiões em que tal arregaçar não passa de um gesto apenas eloqüente, sem, no entanto, haver esforço correspondente.

Arregaçar também é, numa metáfora que soa a eufemismo, pelo que, aparentemente, tenta suavizar, um ato, tipicamente, masculino. E não seria falácia, embora haja aí certa esperteza retórica, nesse jogo de palavras, associar isso a uma fálica postura: e disso gostam os púberes, substituindo,sem se darem conta do negócio, a carne pelo verbo, como os que, com o tempo, depilam-se, mas nem assim conseguem voltar atrás, e, carne cara agora (até o músculos: principalmente eles, tão valorizados!), voltam-se para o verbo, numa ação sem maiores conseqüências sintáticas.

Gilda, que numa foi homem (tendo sido, no entanto, macho o suficiente para suportar a dor, que nenhum macho provavelmente suportaria, de retirar, fio a fio, muitos cabelos dos que, naturalmente, quase lhe cobriam a testa, nesse redesenho de uma face, nessa construção de um mito), essa mesma Gilda que, na nossa fantasia (mesmo na daqueles que, entre nós, não abrem espaço para fantasias), parece já ter nascido aquele mulherão, e vestida a caráter, com longas luvas, como se arregaçasse as mangas, ela tira, num fálico sincronismo musical (sutileza na qual nenhum homem ultrapassa a mulher), as luvas: três-quartos que parecem uma eternidade inteira, não se sabendo muito bem se isso é dispensável, pela prazer adiado, ou se é o próprio prazer, em si, por esse mesmo prolongamento.

Exagero, certamente, coisa, é provável, de homem dado a marketing, dizer que nunca houve uma mulher como ela, como Gilda, como se fosse possível, a qualquer homem, passar em revista todas as mulheres, a menos que para eles isso seja apenas o folhear de páginas carregadas de mulheres que, arreganhadas, às vezes, sem saberem o porquê, vestindo somente luvas três-quartos, jamais chegariam aos pés de Gilda: até porque, salvo opções pessoais, só os homens disso poderiam tirar algum prazer. Mas, homens, em geral, temem ajoelhar-se (temem que sejam obrigados a rezar), quanto mais a ficar aos pés, temendo, nesse caso, gostar tanto dessa posição, que não queiram mais se levantar.

Mas, se são assim, bem poderiam dizer, como Gilda (Put the blame on mame!), que a culpa é toda das mães, chamem-se Gilda ou não, tenham ou não cabelos nas ventas, tenham já deixado algum homem no chão ou arreganhem os dentes para um, louca(s) para um arregaçar, cujo sentido não revelam, nem para si mesmas, ainda que se chamem Gilda, porque, agora, independentemente do nome que tenham, dizem-se mães.









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