sábado, março 01, 2008

HAIR: ESTOU CARECA DE SABER!



À Divina Rita: e falar da Hayworth seria óbvio demais.




elas mesmas, impressiona que todos as vejam, irmãs que não negam ser, como iguais: e os que surgem, apontando diferenças, parecem-lhes sempre querer buscar um meio de perceber o que os outros não notam, sublinhando, contudo, o que, elas próprias, crêem ser suas semelhanças, passando ao largo do que, realmente (se a palavra couber aqui), as faz tão diferentes. No geral, ninguém acredita que não sejam gêmeas; mais até: que, em vez de duas, por mais semelhantes, acham que são, cada uma, metade de uma só. E isso porque sequer incluímos – ainda não – seu irmão que, apesar, gramaticalmente, de gênero oposto, é tido como um pedaço desse inteiro, agora já dividido em três partes.

São todos (por questão de estilo, já que, em número, “elas” lhe superam, único masculino nessa história louca) filhos do Sonho – e não me perguntem com quem, já que, para nossa natureza interdependente, tudo deve nascer de dois, e diferentes entre si. Elas são a Fantasia e a Ilusão, enquanto ele, citado, aqui, por último, embora devam ter surgido ao mesmo tempo, é o Delírio.

Talvez alguém esteja a dizer, atribuindo-me, indevidamente, a paternidade desse delírio (apesar das afinidades oníricas, não sou o Sonho em pessoa), que isso bem pode ser apenas nostalgia, ou recrudescimento psicodélico, de uma época que cansou da onomástica mais convencional, indo buscar, na imaterialidade, o nome das novas gerações – geradas, muitas delas, em pleno delírio, em plena fantasia, em plena ilusão, tudo, claro, com a conivência paterna e algo promíscua do Sonho (de um mundo diferente: e melhor).

Algumas Ilusões, certas Fantasias, sem nos esquecermos dos Delírios, passado o tempo em tudo isso, se não era a imagem da normalidade, era uma necessidade, indispensável, como toda necessidade, para se crer em novas possibilidades e, não raro, apesar de uma aparente contradição, em “lucrativos” negócios, escondem sua origem: uns por causa da excentricidade de batismo, outros porque, pela associação, seu nome é já um registro de nascimento estampado na cara, remetendo a décadas que ficaram para trás.

Nem todo Delírio, Fantasia, Ilusão nasceram lá pelos 60, pelos 70. Na verdade, estes são, nominalmente, o plágio do que há de mais antigo no mundo, podendo recuar mesmo ao seu começo - se não, vejamos: criar um mundo não é fruto de uma alimentada fantasia? pôr mãos à obra não é delírio? e acreditar no que fez, dando-se por satisfeito, é ou não é a mais pura ilusão?

Longe o tempo de criança, hoje em dia não é mais tão comum ver Fantasia e Ilusão passeando por aí de mãos dadas, cabelos trançados e arrematados por um laçarote. O próprio Delírio, um dia, com cabeça nas nuvens, agora, se orgulha de ter os pés no chão. Mas, por mais que as coisas mudem, por mais que o mundo não tenha melhorado, que toda aquela “fumaceira” – e fumaça é sempre bom indício de fogo – não se tenha configurado no incêndio de um velho viver, cheio de separações oficiais (e outras não), e no conseqüente surgimento, dessas cinzas (delírio? ilusão? fantasia?), de uma fraternidade sem fronteiras, Fantasia, Delírio, Ilusão não deixam de ser o que são, assim, de uma hora para outra, negando, simplesmente, o próprio nome, nome próprio vindo de substantivos abstratos, tendo de carregar consigo, por mais que a isso chamem de peso, a natureza que lhes é indissociável.

Não se pode lhes negar certa solidariedade. Por mais que à nossa boca venha, com facilidade exemplar, um discurso de que cada um deve ser o que é, impondo-se, mesmo contra a maré, nem sempre nos sentimos confortáveis em, publicamente – do jeito que nossa vida particular é, e cada vez mais –, apresentá-los como amigos; evitando, não raro, que nos tomem sequer como seus conhecidos.

E tudo isso nos leva a concluir que é preciso ser forte para resistir contra todas as adversidades; especialmente, se se tem de lutar contra a própria natureza, neste mundo-solo, longe o tempo dos coros-paz-e-amor: e onde outro lugar mais hostil, tudo tão terreno, para quem é Delírio (por favor, chamem-me, diminutiva e carinhosamente, de Del!), para quem é Fantasia (para você, ela é Fan), para quem é Ilusão (Lu – e prefiro ostentar este meu nome inapreensível a ser chamado(a), em público, de Lulu: coisa mais infantil!).

Não falamos do Sonho. Mas, mesmo os que não crêem em nada (disso) sabem, de cor, ainda que tenham esquecido o que vem depois, que...Em nome do pai...tudo é possível. E foi Ele Quem deu nome a tudo, pelo menos, no começo, quando só verbo havia e o mundo ainda carecia dessas abstrações que, apesar de muitos cabelos (o que não é o meu caso), não nos saem da cabeça: Delírio, Fantasia, Sonho...



Se, neste mundo de nomes, ainda houvesse espaço para se dar um (outro) nome ao mundo, que tal...Woodstock?!

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